Em Minas Gerais a cidade de Três Marias é sinônimo de pesca, descanso, sossego e diversão. É desfrutar do conforto das pousadas ou acampar na beira do rio, andar pelo mato e ver o sol nascer nas palmas dos buritis que inspiraram o grande escritor Guimarães Rosa. Com incomparável cor azul, o lago se torna prateado em noites de Lua Cheia para enaltecer o grande sertão e as veredas.
O Lago de Três Marias surgiu do represamento do Rio São Francisco, formando uma das maiores barragens de terra do mundo. Do alto da Pedra do Mirante, sobre as duas rochas grandes vê-se tanta água que parece mar; o Doce Mar de Minas...
Três Marias é envolta em mitos e lendas, a começar pelo seu nome. Conta-se que na região morava um casal com suas três filhas: Maria Francisca, Maria Geralda e Maria das Dores que ajudavam seus pais na hospedaria. Por isso, tropeiros, pescadores e viajantes passaram a se referir ao local como hospedaria das três marias.
Certo dia, as meninas foram se banhar às margens do rio. Inesperadamente surgiu uma grande correnteza que arrastou-as para o fundo do rio. Seus corpos nunca foram encontrados, mas muitos afirmam que três sereias aparecem nas margens do rio em noites de Lua Cheia. O local onde funcionava a hospedaria foi inundado pela barragem da represa. Em homenagem às Marias, a cidade passou a ser chamada Três Marias.
Quem mora nas barrancas do rio, aprende desde cedo a nadar como peixe no Velho Chico; é como chamam carinhosamente o Rio São Francisco. Esse é um local onde se conta e se acredita em muitas lendas tais como do Caboclo d’Água, sereias, alma penada, encosto, mula-sem-cabeça e saci pererê.
A natureza mostra sua força em Três Marias nas águas que vertem da barragem ou nas cachoeiras do Riachão, do Guará e outras ou nas cascatas que se escondem entre os grandes paredões de pedras.
Ao lado do vertedouro, a escultura da Praça do Índio simboliza o homem dominando a natureza remetendo ao poder e força que há em cada um de nós. Pura magia, que é moldar o ambiente à sua volta e a si mesmo, controlando seus instintos, desejos e ações.
Cidade de construções antigas e casas de adobe pintadas de cal, árvores de cerrado como o ipê amarelo e roxo, aroeira, jatobá, jenipapo, quaresmeira, buriti e a gameleira centenária fazem seu cenário. Não é a toa que chamam Três Marias de oásis do sertão.
Nos quintais, rego d’água, monjolo, terreiro de terra batida onde galinhas d’angola e outras aves ciscam e porcos fuçam no chiqueiro. Quintais que é lugar também para muitos "causos" de pescador, serenatas e modas de violeiro. Trimariense é festeiro e cantador, luau e carnaval na praia além de outras festas.
A cidade tem gosto de comida da boa; Pacamã, Mandi, Surubim e tantos outros peixes da região. E dá água na boca ver tanto doce: doce de leite, curau de milho verde, Broa de fubá, pamonha, mel de abelha e rapadura. Nas portas das cozinhas, horta de legumes, verduras e plantas medicinais como erva-cidreira, funcho, losma, boldo, macelinha e outras.
Três Marias tem sabor de licor: de banana, jaboticaba, jenipapo ou abacaxi. Da janela, vê-se o pomar: laranjeiras, mangueiras, goiabeiras, tamarindeiros, limoeiros, bananeiras, mamoeiros, pés de cana, bambu, abacateiros, jabuticabeiras e outros pés de pau, frutos que poucos conhecem: Murici, Pequi e Araticum.
Dá gosto de ouvir as histórias do lendário Manuelzão, personagem imortalizado por Guimarães Rosa, cuja memória é mantida viva em sua antiga casa transformada em Museu no Distrito de Andrequicé. Lá dentro sua mobília e no quintal o banquinho onde Manuelzão costumava sentar-se à tarde para muita prosa.
Na cozinha ainda está a grande fornalha barrelada de cinza onde ardia o fogo noite e dia, que era para conservar a chaleira de ferro com água fervendo para coar café para quem chegar. Porque no sertão tudo é certo, incerta é a hora e o tempo que não se vê passar...